PARTE 3 (Final)
Viajando no bonde da saudade
Apos tomarmos a última cerveja, a saideira, e como prometemos a dona do bar em que estávamos, enfim ela e seu filho fecharam o seu comércio; o último estabelecimento comercial aberto aquela hora da madrugada no bairro do Recife antigo. O nosso trio resolveu naquele momento, finalmente, regressar de vez para casa e, inesperadamente, o nosso "livro ambulante" de histórias do Recife antigo, que já quase ao raiar do dia ainda nos fazia uma agradabilíssima companhia, começou a chorar de emoção por nosso trio deixar naquela madrugada ele fazer parte da nossa roda de conversa e após termos dito a ele que acabara de ter ganho mais três fieis amigos. Ele, sem pestanejar e insistentemente, logo horadamente aprovada por nosso trio a sua decisão, fez questão de nos acompanhar até a ponte mais próxima ao nosso trio; a ponte de saída do bairro do Recife antigo mais próxima de onde estávamos.
Começamos, naquele momento nós quatro, a caminhar até a ponte a passos lentos e, incrivelmente, para a surpresa do nosso trio, parecia que a cada passo que dávamos em direção até a ponte, a partir daquela hora, fazíamos uma mais acentuada e imaginativa viagem ao passado, pois, o velho e sábio homem se empolgou mais do que nunca e começou a se aprofundar nas suas narrações, contando-nos mais intensamente suas histórias do nostálgico passado recifense.
Passamos por um determinado cruzamento da rua e notamos os trilhos das antigas linhas de bondes que ainda incrivelmente existem no barro do Recife antigo. Os trilhos que nós avistávamos, atravessava toda esta rua onde nós caminhávamos, e mais adiante, na esquina, dobrava para uma outra rua. O velho começou a falar dos antigos bondes e...
— Parem!....
— Shiiiii!....
— Vocês estão escutando isto?! — alertou e disse o velho e sábio homem para o nosso trio, nos surpreendendo.
— O quê?!... — perguntei para ele, naquele momento já com nós quatro parados.
A aurora pernambucana chegou... O sol começou a raiar...
O silêncio era avassalador naquele momento, tanto que conseguíamos incrivelmente escutar o som das primeiras garças pousando no Rio Capibaribe, à procura do "café da manhã".
— Sinos como se fosse de um bonde antigo chegando...
— Vocês não escutaram?!... — explicou e perguntou novamente, de forma
surpresa, o velho homem para o nosso trio que estranhamente não o respondeu; olhamos espantados um para a cara do outro e por todo o nosso redor, incrivelmente e verdadeiramente com os nossos ouvidos à procura do fantástico e provavelmente fantasmagórico som dos sinos de um enigmático bonde antigo que supostamente estava chegando próximo de onde estávamos, em pleno ano atual, o ano de 1998.
Risos desconfiados, do nosso trio...
— Gente, eu escutei mesmo — disse um dos meus primos, logo em seguida sorrindo.
— Acredita porra! — disse novamente meu primo sorrindo.
Novos risos desconfiados... O nosso trio pôde notar uma maior empolgação do velho homem, após ter escutado que meu primo disse brincando que escutou os misteriosos sons de um sino de um bonde chegando.
O velho homem começou a se aprofundar nas suas histórias do passado recifense... Começou-nos a contar de seus diversos trabalhos da sua juventude e constantes, aventureiras, espetaculares e perigosas caminhadas que fazia até mesmo à noite, desde o "Complexo de Salgadinho" até o centro do Recife — no íntimo do nosso trio, ao escutarmos estas histórias do Recife antigo narradas pelo velho e sábio homem, verdadeiramente não só parecíamos ter escutado os enigmáticos sinos de um bonde antigo chegando nas proximidades do nosso grupo, como também ter-mos embarcado nele, ladeado pelo velho e sábio "motorneiro" contador de histórias...
Um bonde que chegou no raiar do dia... O último bonde da madrugada recifense, entrando na rua lotado de passageiros... Senhores trabalhadores de um passado recifense... Senhores com seus chapéus e paletós brancos à moda da época... Inclusive o nosso trio, viajando imaginativamente num bonde antigo pelas ruas e bairros de uma passado pernambucano...
Olhando para a ponte mais adiante a nossa frente, no início da rua, o nosso "motorneiro" e velho sábio homem contador de histórias, após apontar para a ponte nos indicando, lembrou que tanto nela quanto nas outras do centro da cidade do Recife, em dias de chuva e de fortes ventos, senhores em grupos, inclusive ele e demais de seus colegas, reuniam-se nas saídas das pontes e apreciavam bons lances de variados tipos de calcinhas femininas proporcionados por "ventos machos", onde a empolgação de alguns grupos era tanta, que alguns integrantes gritavam:
— Eita vento macho arretado!
Começamos, naquele momento nós quatro, a caminhar até a ponte a passos lentos e, incrivelmente, para a surpresa do nosso trio, parecia que a cada passo que dávamos em direção até a ponte, a partir daquela hora, fazíamos uma mais acentuada e imaginativa viagem ao passado, pois, o velho e sábio homem se empolgou mais do que nunca e começou a se aprofundar nas suas narrações, contando-nos mais intensamente suas histórias do nostálgico passado recifense.
Passamos por um determinado cruzamento da rua e notamos os trilhos das antigas linhas de bondes que ainda incrivelmente existem no barro do Recife antigo. Os trilhos que nós avistávamos, atravessava toda esta rua onde nós caminhávamos, e mais adiante, na esquina, dobrava para uma outra rua. O velho começou a falar dos antigos bondes e...
— Parem!....
— Shiiiii!....
— Vocês estão escutando isto?! — alertou e disse o velho e sábio homem para o nosso trio, nos surpreendendo.
— O quê?!... — perguntei para ele, naquele momento já com nós quatro parados.
A aurora pernambucana chegou... O sol começou a raiar...
O silêncio era avassalador naquele momento, tanto que conseguíamos incrivelmente escutar o som das primeiras garças pousando no Rio Capibaribe, à procura do "café da manhã".
— Sinos como se fosse de um bonde antigo chegando...
— Vocês não escutaram?!... — explicou e perguntou novamente, de forma
surpresa, o velho homem para o nosso trio que estranhamente não o respondeu; olhamos espantados um para a cara do outro e por todo o nosso redor, incrivelmente e verdadeiramente com os nossos ouvidos à procura do fantástico e provavelmente fantasmagórico som dos sinos de um enigmático bonde antigo que supostamente estava chegando próximo de onde estávamos, em pleno ano atual, o ano de 1998.
Risos desconfiados, do nosso trio...
— Gente, eu escutei mesmo — disse um dos meus primos, logo em seguida sorrindo.
— Acredita porra! — disse novamente meu primo sorrindo.
Novos risos desconfiados... O nosso trio pôde notar uma maior empolgação do velho homem, após ter escutado que meu primo disse brincando que escutou os misteriosos sons de um sino de um bonde chegando.
O velho homem começou a se aprofundar nas suas histórias do passado recifense... Começou-nos a contar de seus diversos trabalhos da sua juventude e constantes, aventureiras, espetaculares e perigosas caminhadas que fazia até mesmo à noite, desde o "Complexo de Salgadinho" até o centro do Recife — no íntimo do nosso trio, ao escutarmos estas histórias do Recife antigo narradas pelo velho e sábio homem, verdadeiramente não só parecíamos ter escutado os enigmáticos sinos de um bonde antigo chegando nas proximidades do nosso grupo, como também ter-mos embarcado nele, ladeado pelo velho e sábio "motorneiro" contador de histórias...
Um bonde que chegou no raiar do dia... O último bonde da madrugada recifense, entrando na rua lotado de passageiros... Senhores trabalhadores de um passado recifense... Senhores com seus chapéus e paletós brancos à moda da época... Inclusive o nosso trio, viajando imaginativamente num bonde antigo pelas ruas e bairros de uma passado pernambucano...
Olhando para a ponte mais adiante a nossa frente, no início da rua, o nosso "motorneiro" e velho sábio homem contador de histórias, após apontar para a ponte nos indicando, lembrou que tanto nela quanto nas outras do centro da cidade do Recife, em dias de chuva e de fortes ventos, senhores em grupos, inclusive ele e demais de seus colegas, reuniam-se nas saídas das pontes e apreciavam bons lances de variados tipos de calcinhas femininas proporcionados por "ventos machos", onde a empolgação de alguns grupos era tanta, que alguns integrantes gritavam:
— Eita vento macho arretado!
Naquele momento chegou-me a memória um provérbio popular que li num livro de meu avô José Gomes, outra dessas raras figuras que sabem contar muito bem o Recife antigo: "Tudo na vida é passageiro, menos o condutor e o motorneiro". Eu citei para o nosso grupo e disse que li no livro de meu avô, logo atraindo a atenção do velho homem, que me pediu naquele momento para eu também contar algumas das muitas histórias do Recife antigo que meu avô me contava e que, segundo o meu avô, eram reais... O velho homem, após me dizer que a partir daquele momento eu tinha assumido o controle do fantasioso e nostálgico bonde em que viajávamos rumo a um breve passeio por um passado de glória pelas ruas e bairros do Recife antigo, parecia estar fascinado, escutando, sem dar um pio, as histórias narradas por mim e que meu avô me contava...
Comecei a contar um destes fatos que por sinal o considero como tragicômico, sobre que naquela época por aqui por estas bandas da capital pernambucana, eram raros os ladrões e assaltos em bairros da periferia, e os ladrões mais famosos que existiam naquela época eram, por incrível que pareça, os ladrões de galinhas. Contou-me meu avô que, certo dia presenciou os guardas pegarem um ladrão de galinha em pleno centro da cidade do Recife e ele era brabo demais. O ladrão lutou tanto contra os apertos, murros e puxões dos guardas que ficou de cueca. O ladrão, incrivelmente indignado com a aproximação de um bonde lotados de senhoras, senhores trabalhadores, crianças, enfim, famílias, ficou vermelho de tanta raiva e começou a gritar:
— Eu estou imoral!
— Eu estou imoral!... — o velho senhor naquele momento que narrei este fato, teve uma crise de risos e que pensei que ele ia ter um "treco".
Os bondes acabaram em Recife devido, entre vários fatores, a um que se destaca: o aumento da população recifense, comparada ao insuficiente número de bondes; isto é o que os livros e as pessoas mais antigas falam sobre este fato. Uma das últimas linhas a se extinguirem foi a de "Beberibe".
Meu avô me contou que ocorriam acidentes com mortes em bondes, inclusive, teve um acidentado famoso na época e que sobreviveu, ficando conhecido por "Debaixo do Bonde".
Meu avô morava naquela saudosa época no bairro de Casa Amarela, bairro muito antigo, onde trabalhou e andou muito pelas ruas daquele bairro de muitas histórias. Ele trabalhou como "Contínuo" no centro e lamenta que se fosse hoje estaria provavelmente com muitas chances de estar desempregado neste cargo, visto que quase todos os serviços que ele realizava, hoje na atualidade com com toda a tecnologia da informática, são quase todos realizados pelo computador.
Muitas das crianças daquela época, no bairro de Casa Amarela, onde ele morava, se divertiam a noite assustando as outras pessoas, colocando abóboras com velas em seus interiores e deixando-as em algumas ruas escuras e consideradas mal assombradas por muitos supersticiosos. De vez em quando podiam-se escutar os berros de sustos femininos e até masculinos também; entre outros berros não tão masculinos assim.
Meu "vô" José sempre me fala com orgulho do carnaval recifense antigo, e sempre me cita sobre o famoso evento carnavalesco "O corso", onde carros daquela época com muitos foliões em felicidade, regados a lança-perfumes, confetes, serpentinas, mulheres belíssimas fantasiadas e homens fantasiados também, desfilavam em carreata no centro do Recife daqueles tempos saudosos.
Eu narrei também dois dos fatos ao nosso grupo, que meu avô não se cansava de me contar, e nem eu de o escutar. O primeiro foi de que ele me relatava que uma rara confusão que ele viu no carnaval antigo foi a de um senhor de paletó branco, alvejado por um alegre e mais afoito folião que o sujou com uma tinta cor de sangue. O senhor de paletó, irado, correu velozmente atrás do homem que o melou e quando o alcançou para socar-lhe um murro na cara, olhou novamente para sua roupa molhada, porém branquíssima, devido a um inofensivo produto químico utilizado em brincadeiras naquela época, e inesperadamente soltou o homem caído e começou a dançar alegremente ao ritmo de frevo e logo sumiu no meio da multidão, pulando de inesperada felicidade. O segundo fato foi um fato mortalmente trágico e lamentável, sobre um senhor emocionado com uma agremiação carnavalesca e que ele era fã, e jogou em si próprio, da cabeça aos seus pés, uma tinta de pintar grades, e começou a dançar no meio da avenida, sob o sol escaldante de Recife, morrendo horas depois por entupimento dos poros, bem no meio da folia.
Eu disse diretamente ao velho homem que meu avô sempre dá boas gargalhadas ao se lembrar do nome do bloco carnavalesco que fizeram em homenagem ao seu colega: " O cabeça de alumínio".
Sempre que eu posso estou lá ouvindo as histórias que meu avô José me conta, sobre os fatos do Recife antigo.
Quando menos esperávamos, chegamos na ponte e o sol começou a esquentar pra valer. O nosso quarteto olhou feliz para o céu recifense incrivelmente todo azul naquela maravilhosa e inspiradora manhã, sem uma nuvenzinha sequer. Uma manhã promissora... Carnavalesca... O sábado de "Zé Pereira" tinha chegado pra valer a partir daquele momento.
Tristemente nos despedimos de "Padre Cícero"; este era o apelido do velho e sábio homem. Ele não nos informou seu verdadeiro nome, mas, nos convidou para mais um aniversário seu, dizendo que ia ser ali mesmo numa rua apontada por ele, sendo interrompido inesperadamente por um bêbado que surgiu próximo a nós, dando um grande arroto e logo após, em "close up", uma boa golfada de pura cachaça, parecendo mais um cão raivoso e cheio de baba; o bêbado se recuperou da vomitada e ficou ali em pé, bem próximo ao nosso trio e sorrindo banguelamente para nós, que o cumprimentamos.
Seu "Padre Cícero" trabalha hoje em condições precárias nas ruas históricas do Recife antigo e que, com certeza, ele curte suas lembranças daqueles bons tempos que não voltaram mais, andando dia e noite... Noite e dia... Madrugadas recifenses e seus fantasmas dos carnavais passados...
Voltamos para nossa realidade a partir daquele momento. O nosso imaginário bonde do passado, o bonde saudosista, como numa máquina do tempo, nos trouxe mais uma vez para o presente. Mas... Um bonde que não nos deixou por completo no meio do caminho; no tempo atual. Consentiu-nos uma lembrança... Pois, já era uma linda manhã de sábado de "Zé Pereira"... Trouxe-nos presenteados num lindo e promissor sábado de carnaval e com a nossa imaginação de um passado saudosista mais forte do que nunca a partir daquele dia.
Como num passe de mágica, o nosso trio pôde imaginar, a partir daquele momento, o bonde transfigurar-se num potente trem-bala que mudou a placa para seu novo destino e logo o seguiu supervelozmente pelo túnel do tempo; seguiu rumo a imponente luz que sempre brilha no fim do túnel... Que sempre brilha nas nossas mentes... Seguiu rumo ao futuro.
O nosso trio naquela manhã pôde observar com uma visão mais transcendental, como o tempo não para... E pulsa como um grande coração pernambucano... Um grande coração humanamente recifense e que bombeia cada vez mais rápido; bombeia a humanidade que não para nunca. Observamos surpresos o centro do Recife lotar de forma impressionantemente cada vez mais rápida... Lotar de milhões de pessoas que já estavam nas ruas recifenses aquela hora da manhã... Era o maior evento carnavalesco do mundo, o "Galo da Madrugada", que já estava nas ruas, saudando o carnaval.
Comecei a contar um destes fatos que por sinal o considero como tragicômico, sobre que naquela época por aqui por estas bandas da capital pernambucana, eram raros os ladrões e assaltos em bairros da periferia, e os ladrões mais famosos que existiam naquela época eram, por incrível que pareça, os ladrões de galinhas. Contou-me meu avô que, certo dia presenciou os guardas pegarem um ladrão de galinha em pleno centro da cidade do Recife e ele era brabo demais. O ladrão lutou tanto contra os apertos, murros e puxões dos guardas que ficou de cueca. O ladrão, incrivelmente indignado com a aproximação de um bonde lotados de senhoras, senhores trabalhadores, crianças, enfim, famílias, ficou vermelho de tanta raiva e começou a gritar:
— Eu estou imoral!
— Eu estou imoral!... — o velho senhor naquele momento que narrei este fato, teve uma crise de risos e que pensei que ele ia ter um "treco".
Os bondes acabaram em Recife devido, entre vários fatores, a um que se destaca: o aumento da população recifense, comparada ao insuficiente número de bondes; isto é o que os livros e as pessoas mais antigas falam sobre este fato. Uma das últimas linhas a se extinguirem foi a de "Beberibe".
Meu avô me contou que ocorriam acidentes com mortes em bondes, inclusive, teve um acidentado famoso na época e que sobreviveu, ficando conhecido por "Debaixo do Bonde".
Meu avô morava naquela saudosa época no bairro de Casa Amarela, bairro muito antigo, onde trabalhou e andou muito pelas ruas daquele bairro de muitas histórias. Ele trabalhou como "Contínuo" no centro e lamenta que se fosse hoje estaria provavelmente com muitas chances de estar desempregado neste cargo, visto que quase todos os serviços que ele realizava, hoje na atualidade com com toda a tecnologia da informática, são quase todos realizados pelo computador.
Muitas das crianças daquela época, no bairro de Casa Amarela, onde ele morava, se divertiam a noite assustando as outras pessoas, colocando abóboras com velas em seus interiores e deixando-as em algumas ruas escuras e consideradas mal assombradas por muitos supersticiosos. De vez em quando podiam-se escutar os berros de sustos femininos e até masculinos também; entre outros berros não tão masculinos assim.
Meu "vô" José sempre me fala com orgulho do carnaval recifense antigo, e sempre me cita sobre o famoso evento carnavalesco "O corso", onde carros daquela época com muitos foliões em felicidade, regados a lança-perfumes, confetes, serpentinas, mulheres belíssimas fantasiadas e homens fantasiados também, desfilavam em carreata no centro do Recife daqueles tempos saudosos.
Eu narrei também dois dos fatos ao nosso grupo, que meu avô não se cansava de me contar, e nem eu de o escutar. O primeiro foi de que ele me relatava que uma rara confusão que ele viu no carnaval antigo foi a de um senhor de paletó branco, alvejado por um alegre e mais afoito folião que o sujou com uma tinta cor de sangue. O senhor de paletó, irado, correu velozmente atrás do homem que o melou e quando o alcançou para socar-lhe um murro na cara, olhou novamente para sua roupa molhada, porém branquíssima, devido a um inofensivo produto químico utilizado em brincadeiras naquela época, e inesperadamente soltou o homem caído e começou a dançar alegremente ao ritmo de frevo e logo sumiu no meio da multidão, pulando de inesperada felicidade. O segundo fato foi um fato mortalmente trágico e lamentável, sobre um senhor emocionado com uma agremiação carnavalesca e que ele era fã, e jogou em si próprio, da cabeça aos seus pés, uma tinta de pintar grades, e começou a dançar no meio da avenida, sob o sol escaldante de Recife, morrendo horas depois por entupimento dos poros, bem no meio da folia.
Eu disse diretamente ao velho homem que meu avô sempre dá boas gargalhadas ao se lembrar do nome do bloco carnavalesco que fizeram em homenagem ao seu colega: " O cabeça de alumínio".
Sempre que eu posso estou lá ouvindo as histórias que meu avô José me conta, sobre os fatos do Recife antigo.
Quando menos esperávamos, chegamos na ponte e o sol começou a esquentar pra valer. O nosso quarteto olhou feliz para o céu recifense incrivelmente todo azul naquela maravilhosa e inspiradora manhã, sem uma nuvenzinha sequer. Uma manhã promissora... Carnavalesca... O sábado de "Zé Pereira" tinha chegado pra valer a partir daquele momento.
Tristemente nos despedimos de "Padre Cícero"; este era o apelido do velho e sábio homem. Ele não nos informou seu verdadeiro nome, mas, nos convidou para mais um aniversário seu, dizendo que ia ser ali mesmo numa rua apontada por ele, sendo interrompido inesperadamente por um bêbado que surgiu próximo a nós, dando um grande arroto e logo após, em "close up", uma boa golfada de pura cachaça, parecendo mais um cão raivoso e cheio de baba; o bêbado se recuperou da vomitada e ficou ali em pé, bem próximo ao nosso trio e sorrindo banguelamente para nós, que o cumprimentamos.
Seu "Padre Cícero" trabalha hoje em condições precárias nas ruas históricas do Recife antigo e que, com certeza, ele curte suas lembranças daqueles bons tempos que não voltaram mais, andando dia e noite... Noite e dia... Madrugadas recifenses e seus fantasmas dos carnavais passados...
Voltamos para nossa realidade a partir daquele momento. O nosso imaginário bonde do passado, o bonde saudosista, como numa máquina do tempo, nos trouxe mais uma vez para o presente. Mas... Um bonde que não nos deixou por completo no meio do caminho; no tempo atual. Consentiu-nos uma lembrança... Pois, já era uma linda manhã de sábado de "Zé Pereira"... Trouxe-nos presenteados num lindo e promissor sábado de carnaval e com a nossa imaginação de um passado saudosista mais forte do que nunca a partir daquele dia.
Como num passe de mágica, o nosso trio pôde imaginar, a partir daquele momento, o bonde transfigurar-se num potente trem-bala que mudou a placa para seu novo destino e logo o seguiu supervelozmente pelo túnel do tempo; seguiu rumo a imponente luz que sempre brilha no fim do túnel... Que sempre brilha nas nossas mentes... Seguiu rumo ao futuro.
O nosso trio naquela manhã pôde observar com uma visão mais transcendental, como o tempo não para... E pulsa como um grande coração pernambucano... Um grande coração humanamente recifense e que bombeia cada vez mais rápido; bombeia a humanidade que não para nunca. Observamos surpresos o centro do Recife lotar de forma impressionantemente cada vez mais rápida... Lotar de milhões de pessoas que já estavam nas ruas recifenses aquela hora da manhã... Era o maior evento carnavalesco do mundo, o "Galo da Madrugada", que já estava nas ruas, saudando o carnaval.
FIM
VÁ PARA A 1ª PARTE DESTE CONTO, CLICANDO NESTE LINK: http://biojarlablog.blogspot.com.br/p/um-conto-do-autor-jarlilson-ricardo.html
VÁ PARA A 2ª PARTE DESTE CONTO, CLICANDO NESTE LINK: http://biojarlablog.blogspot.com.br/2013/07/um-conto-do-autor-jarlilson-ricardo-de_30.html
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